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A saúde mental também precisa de EPIs?

A saúde mental também precisa de EPIs?

Os transtornos mentais estão entre as três principais causas de afastamento do trabalho, de acordo com dados da Justiça do Trabalho.

Os transtornos mentais estão entre as três principais causas de afastamento do trabalho, de acordo com dados da Justiça do Trabalho. Somente no último ano, o Ministério da Previdência Social apontou um aumento de 38% nos afastamentos por problemas mentais. Como, então, transformar este cenário? A partir de sua própria experiência no mercado de trabalho, a jornalista e palestrante Izabella Camargo desenvolveu o 1º Manifesto para a Criação e Implementação de EPIs da Saúde Mental, equipamentos de proteção individual destinados a preservar e promover a saúde mental dos trabalhadores, assim como os EPIs físicos protegem contra riscos ocupacionais durante o exercício de uma determinada atividade.

Izabella, que também é colunista do portal, concedeu entrevista exclusiva e explicou como funciona o manifesto, que alcançou, durante o CBTD 2024, 3.400 assinaturas, que somaram às mais de 100 mil pessoas impactadas com publicações e vídeos em todas as redes sociais da comunicadora, que juntas somam mais de 1,7 milhão de seguidores.

Confira o papo:

RH Pra Você: A Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema. Foi a partir de sua vivência com esse distúrbio emocional que tudo se transformou. Pensando nisso, que mensagem você deixa para o público a cada palestra realizada?

Izabella: Todos nós passaremos por situações desafiadoras. Quando vivenciei meu burnout, ainda não compreendia o que estava acontecendo. Não tinha ideia de como essa situação me escolheu. Com o diagnóstico, a paciência foi crucial, e eu fui demitida. Até então, eu me sentia uma vítima. No entanto, os sinais já estavam presentes antes, mas eu não acreditava que algo assim pudesse ocorrer. Quando consegui abandonar o papel de vítima e me transformar em uma aprendiz, percebi que precisei passar por tudo aquilo para fazer o que faço hoje.

Quando trabalhava no Grupo Bandeirantes, era a voz da rádio, da TV e de outros canais do grupo. Já na Globo, não fui reconhecida por nada, inclusive no primeiro dia de trabalho criticaram minha voz. Mas foi necessário passar por lá para, hoje, ser a voz de uma causa que necessita de educação.

Ao retornar ao CBTD, este sendo meu terceiro ano, sinto-me muito feliz por abordar esse tema com gestores que levarão essa informação a suas empresas. Como um beija-flor, gota a gota, equilibramos o ecossistema. Nesta edição, trouxe o desenvolvimento do ano passado, abrindo o CBTD com o tema da produtividade sustentável.

Este ano, retorno com os EPIs da saúde mental, resultando na continuidade do movimento pela produtividade sustentável. A casa estava cheia. Muitos abraços, muitas emoções, e fico contente por conectar-me com pessoas que entendem minha especialidade como comunicadora, unindo minha vivência, pesquisas e especializações em comunicação. Assim, posso afirmar que estamos adoecendo, e nossas equipes também, não por falta de informação, mas por falta de comunicação. Uma comunicação coerente, equilibrada e moderada, capaz de atender às necessidades das pessoas para prevenir problemas de saúde.

RPV: Como você acredita que é possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho?

Izabella: É possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho ao cessar a busca pelo reconhecimento dos pais e mães no ambiente corporativo, ao deixar de procurar no trabalho os prazeres que devem ser encontrados na vida, fora do ambiente profissional.

Durante minha experiência, minha vida era o trabalho, e por isso, quando me distanciava dele, sentia que perdia parte dela, pois não tinha relacionamentos, nem experiências fora do ambiente de trabalho. Tudo que fazia estava ligado ao trabalho: academia, cursos, terapia, tudo para trabalhar melhor, e não para viver melhor. Portanto, é possível desenvolver uma relação saudável com o trabalho ao assumir uma postura de autorresponsabilidade.

Reconhecendo a necessidade de estabelecer e defender limites, você pode dizer não a situações abusivas e a ambientes hostis, com elegância e delicadeza, garantindo o respeito das pessoas. Se você faz tudo que é pedido, pode ser que gostem de você, mas isso não significa que vão respeitá-lo.

Como as empresas devem atuar em busca de mais bem-estar para os colaboradores?

Izabella: Atualmente, há uma necessidade urgente de atualização de identidade, tanto individual quanto social, pois os negócios, o mercado e o contexto estão em constante mudança. Muitas empresas ainda estão presas a modelos ultrapassados, o que perpetua problemas ao longo do tempo. Portanto, é fundamental a reorganização do mundo do trabalho. O design organizacional, que abrange diversas estruturas organizacionais, é essencial para evitar a perda de talentos e de recursos financeiros. Devemos abandonar ideias antigas que já não são mais eficazes.

As empresas podem promover o bem-estar dos colaboradores ao estabelecer um entendimento comum sobre saúde mental e produtividade sustentável. Não adianta apenas bater metas e pressionar as pessoas, porque após uma meta, haverá outra, e não haverá mais pessoas. É necessário reorganizar o mundo do trabalho, esta é a necessidade atual. Aprendemos a ter responsabilidade; agora, é hora de desenvolver a autorresponsabilidade. Estamos falando de direitos e deveres para todos.

RPV: Por que desenvolver os EPIs da Saúde Mental?

Izabella: Quanto aos EPIs, ao longo de quatro anos, visitei praticamente todas as grandes empresas do Brasil, em todas as áreas, sem exceção, e a recepção sempre foi a mesma: falar sobre saúde mental é um tabu, é preconceito, etc. Isso não é mais aceitável, considerando os dados disponíveis. Portanto, cansei de ver esses dados sem ações efetivas.

O problema de saúde mental não é algo com que apenas alguns poucos lidam; estamos enfrentando uma pandemia de problemas relacionados à saúde mental, e agora estamos nomeando muitas dessas doenças.

Tive um insight: EPIs da saúde mental. Se temos EPIs para a saúde física, por que não EPIs para a saúde mental? Comecei a estudar esse tema desde os anos 30, quando o Ministério do Trabalho foi estabelecido. Demoramos cerca de 40 anos para legalizar EPIs para riscos físicos; no entanto, não podemos esperar mais 40 anos para os EPIs de saúde mental serem regulamentados. Não é necessário estar em um ambiente barulhento ou sujeito a deslizamentos para adoecer; posso estar sentado na frente de um computador, sem ameaças visíveis, e ainda assim sofrer algo.

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